O término
De repente você escuta as palavras. Elas jamais
são esperadas, pois, por mais que tenham vindo sinais, você estava cego para
enxergar.
E aí todo o feito de desfaz, todo o plano se rompe, todo o
desejo sonhado é assassinado. E você fica tentando encontrar um por quê.
Tentando explicar o inexplicável.
Ah! mas você se lembra de erguer a cabeça, não permite que
seu orgulho seja ferido mais do que já está, muitas vezes, um grande
erro, outras quem sabe não.
Mas isso já não importa mais, o acordo, sim você
acaba de perceber que era um acordo, no fim das contas é um acordo. O acordo
que permitia as bocas se tocarem e abraços apaixonados expirou, sem aviso
prévio, de um segundo para o outro, tudo que vinha te fazendo mais feliz nos
últimos dias, meses ou anos não é mais permitido. E, imediatamente, nessa mesma
despedida você tem de abrir mão de tudo isso. Como um sem teto que acabou de
sair em disparada pois sua casa acabara de desmoronar sem lhe dar tempo, nem ao
menos, de buscar seus documentos.
Em choque você começa a querer se livras de tudo
que possa lembrar-te do que você jamais quisera esquecer, e nunca planejou
esquecer. Alianças vão para os rios mais sujos, fotografias queimam e viram
cinzas, cartas são rasgadas e descem pela descarga.
E o pior ainda está por vir, o amanhã no qual você
acorda querendo acreditar que fora apenas um pesadelo. Os dias seguintes, as
semanas seguintes. Bem aventurado aquele que não vê mais a pessoa amada, pois
os dias de ressaca são, geralmente, reduzidos.
E como consolo, uma única certeza, o tempo é sempre
agulha e linha que dão os pontos, mesmo que fiquem as cicatrizes.
A volta
Os dois voltam a se olhar depois de um encontro amigável,
já passaram tempo demais sem o outro, algo que tinham esquecido ou nem sequer
sabiam existir agora é percebido, um vulcão retorna à erupção.
Já não consegue pensar no que é certo, ou melhor, para si
ou para ela.
Sabe que não a deixará ir embora, mesmo porque, vê nos olhos
dela que não irá ao menos que seja mandada, e isso, ele não consegue mais
fazer, na verdade, nunca conseguira.
Começa a ficar desesperado, não deseja voltar àquilo tudo,
a vida, por mais que doída, estava
caminhando muito bem sem ela, ou era o que ele se esforçava a sentir, tanto
faz, o fato é que tinha êxito em sua
mais nova tarefa, viver sem a presença dela.
Acostumara-se a isso, e agora ali se encontrava, como um
tetraplégico amaldiçoando o descontrole sobre o próprio corpo.
O leitor que me perdoe à franqueza, mas um sentimento de
foda-se rasga-lhe os pensamentos que até então o bloqueava, sabe que precisa
descongelar a cena na qual se encontra e já
percebe o único jeito.
Orgulho e medo por que me abandonaste? O novo primeiro
beijo após centenas deles, expressão tão esdrúxula quanto "morreu pela
segunda vez", tem inicialmente um gosto amargo, o gosto da derrota para si
mesmo, depois, o gosto quase divino das paixões adolescentes quase platônicas
misturado com muita saudade, além do gosto salgado das lágrimas que imediatamente
escorreram de seus olhos, como dois rios que se encontram para desaguar no mar
de ondas que vem e vão ao movimentar das línguas, todos esses sabores juntos
eram desesperadoramente deliciosos.
Não sabiam se o acordo de alguma forma poderia estar se restituindo,
se o contrato era agora renovado, e era justamente o que não queriam nem precisavam
saber. Como não precisaram saber que aquele reencontro os levaria obrigatoriamente
a isso.
Quando conseguem parar, respiram, e se olham,
dois segundos são suficientes para que possam enxergar uma cláusula adicionada,
por debaixo de uma lágrima dos olhos de cada um lê-se, contrato permanente. Abraçam-se.