sábado, 16 de fevereiro de 2013

Relacionamentos


O término

De repente você escuta as palavras. Elas jamais são esperadas, pois, por mais que tenham vindo sinais, você estava cego para enxergar. 
E aí todo o feito de desfaz, todo o plano se rompe, todo o desejo sonhado é assassinado. E você fica tentando encontrar um por quê. Tentando explicar o inexplicável.
Ah! mas você se lembra de erguer a cabeça, não permite que seu orgulho seja ferido mais do que já está, muitas vezes, um grande erro, outras quem sabe não.
Mas isso já não importa mais, o acordo, sim você acaba de perceber que era um acordo, no fim das contas é um acordo. O acordo que permitia as bocas se tocarem e abraços apaixonados expirou, sem aviso prévio, de um segundo para o outro, tudo que vinha te fazendo mais feliz nos últimos dias, meses ou anos não é mais permitido. E, imediatamente, nessa mesma despedida você tem de abrir mão de tudo isso. Como um sem teto que acabou de sair em disparada pois sua casa acabara de desmoronar sem lhe dar tempo, nem ao menos, de buscar seus documentos.
Em choque você começa a querer se livras de tudo que possa lembrar-te do que você jamais quisera esquecer, e nunca planejou esquecer. Alianças vão para os rios mais sujos, fotografias queimam e viram cinzas, cartas são rasgadas e descem pela descarga.
E o pior ainda está por vir, o amanhã no qual você acorda querendo acreditar que fora apenas um pesadelo. Os dias seguintes, as semanas seguintes. Bem aventurado aquele que não vê mais a pessoa amada, pois os dias de ressaca são, geralmente, reduzidos.
E como consolo, uma única certeza, o tempo é sempre agulha e linha que dão os pontos, mesmo que fiquem as cicatrizes. 

A volta

Os dois voltam a se olhar depois de um encontro amigável, já passaram tempo demais sem o outro, algo que tinham esquecido ou nem sequer sabiam existir agora é percebido, um vulcão retorna à erupção.
Já não consegue pensar no que é certo, ou melhor, para si ou para ela.
Sabe que não a deixará ir embora, mesmo porque, vê nos olhos dela que não irá ao menos que seja mandada, e isso, ele não consegue mais fazer, na verdade, nunca conseguira.
Começa a ficar desesperado, não deseja voltar àquilo tudo, a vida, por mais que doída,  estava caminhando muito bem sem ela, ou era o que ele se esforçava a sentir, tanto faz, o  fato é que tinha êxito em sua mais nova tarefa, viver sem a presença dela.
Acostumara-se a isso, e agora ali se encontrava, como um tetraplégico amaldiçoando o descontrole sobre o próprio corpo.
O leitor que me perdoe à franqueza, mas um sentimento de foda-se rasga-lhe os pensamentos que até então o bloqueava, sabe que precisa descongelar a cena na qual se encontra e já  percebe o único jeito.
Orgulho e medo por que me abandonaste? O novo primeiro beijo após centenas deles, expressão tão esdrúxula quanto "morreu pela segunda vez", tem inicialmente um gosto amargo, o gosto da derrota para si mesmo, depois, o gosto quase divino das paixões adolescentes quase platônicas misturado com muita saudade, além do gosto salgado das lágrimas que imediatamente escorreram de seus olhos, como dois rios que se encontram para desaguar no mar de ondas que vem e vão ao movimentar das línguas, todos esses sabores juntos eram desesperadoramente deliciosos.
Não sabiam se o acordo de alguma forma poderia estar se restituindo, se o contrato era agora renovado, e era justamente o que não queriam nem precisavam saber. Como não precisaram saber que aquele reencontro os levaria obrigatoriamente a isso.
Quando conseguem parar, respiram, e se olham, dois segundos são suficientes para que possam enxergar uma cláusula adicionada, por debaixo de uma lágrima dos olhos de cada um lê-se, contrato permanente. Abraçam-se.  

Um comentário:

  1. Olá! Teu texto é forte e mostra a que veio. Meu comentário: às vezes, é preciso buscar outras formas de se viver. Lindo demais!

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